24.5.06

No último seminário tomei conhecimento de mais uma ameaça ao nosso ecossistema.
Os navios de mercadorias quando chegam a um porto descarregam a mercadoria. Para repor a estabilidade os navios passaram a usar a água como lastro (o lastro consiste em qualquer material usado para dar peso e/ou manter a estabilidade de um objecto). No porto de destino o navio descarrega esse lastro e recebe outra mercadoria.
A água de lastro é muito importante para proporcionar o equilíbrio e a estabilidade aos navios sem carga, no entanto, isso pode causar sérias ameaças ecológicas, económicas e à saúde, visto que as águas costeiras contém bactérias, vírus, diatomáceas, etc. que ao serem transportadas para locais diferentes do seu ecossistema podem ser prejudiciais.
"O uso da água como lastro, e o desenvolvimento de embarcações maiores e mais rápidas, cujas viagens são completadas em menos tempo, combinados com o rápido crescimento do comércio mundial, resultou na redução das barreiras naturais que preveniam a dispersão de espécies pelos oceanos. Em particular, os navios permitem que as espécies marinhas das zonas temperadas penetrem nas zonas tropicais, e algumas das mais surpreendentes introduções envolveram espécies das zonas temperadas do norte invadindo as zonas temperadas do sul e vice-versa.
Estima-se que, o movimento de água de lastro proporcione o transporte diário de pelo menos 7.000 espécies entre diferentes regiões do globo. A grande maioria das espécies levadas na água de lastro não sobrevive à viagem por conta do ciclo de enchimento e despejo do lastro, e das condições internas dos tanques, hostis à sobrevivência dos organismos.
Mesmo para aqueles que sobrevivem e são lançados ao mar, as hipóteses de sobrevivência em novas condições ambientais, incluindo acções predatórias e/ou competições com as espécies nativas, são bastante reduzidas. No entanto, quando todos os factores são favoráveis, uma espécie introduzida, ao sobreviver e estabelecer uma população reprodutora no ambiente hospedeiro, pode tornar-se invasora, competindo com as espécies nativas e se multiplicando em proporções epidémicas."

Exemplos de como as introduções de espécies podem causar impactos catastróficos para a saúde, economia e/ou ecologia dos ambientes hospedeiros:
- No Mar Negro, a água-viva filtradora norte-americana Mnemiopsis leidyi atingiu densidades de 1kg de biomassa por m2. Isso esgotou os stocks do plâncton nativo de tal maneira que contribuiu para o colapso de toda a pesca comercial no Mar Negro.
- Em muitos países, observou-se a introdução de algas microscópicas que provocam a "maré-vermelha" (dinoflagelados tóxicos).
- A contaminação de moluscos filtradores, tais como ostras e mexilhões, utilizados na alimentação humana, pode causar paralisia e até mesmo a morte.
-Teme-se que doenças como o cólera possam ser transportadas na água de lastro.

Na Austrália já introduziram o pagamento de uma taxa sempre que um navio entre em águas australianas. O dinheiro proveniente dessa taxa já foi utilizado para fazer o maior levantamento de biodiversidade marinha alguma vez realizado.

A engenharia naval tem em mãos uma importante tarefa, a de repensar a construção dos barcos por forma a evitar as trocas de lastros (trocas de águas).

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